QUINTO CAPÍTULO

17/05/2013 13:08

 

QUINTO CAPÍTULO

 

Daniel já tinha se levantado, caminhado em círculos, colocado as mãos na cabeça, mas não conseguia acreditar na história que Hellen acabara de lhe contar. Tudo parecia irreal. Hellen havia contado detalhadamente a história das charadas do corpo de David até suas suspeitas em relação a delegada. Daniel não estava somente absorto com a história, mas também com a atitude de Hellen em ocultar o cadáver sem um motivo muito consistente. Outro ponto que lhe impedia de se concentrar para digerir tudo o que ouvira era Sarah que estava ali da mesma forma atônita ouvindo tudo. Uma esfinge tatuada no braço de um cadáver levou até essa garota?! Era pedir demais para o ceticismo de Daniel.

- Então, segundo o que você concluiu ainda há mais coisas a se descobrir. E essa garota é uma peça fundamental para terminar de decifrar esse quebra cabeças é isso? Daniel desafiou Hellen com um olhar cético.

- Sim. A tatuagem dizia que devemos seguir os passos da primeira de Abraão e única de Daniel, a Sarah! Isso não tem mais como contestar. Ela está aqui! Respondeu Hellen.

Sarah não sabia o que falar diante tudo que ouvia. Estava calada à espera de conclusões e que tudo se resolvesse logo.

- Calma, eu não consigo assimilar tudo isso assim Hellen! - Disse Daniel sentando-se à mesa e tomando um generoso gole de cappuccino expresso.  – E o que você quer que eu faça? Que ajuda é essa eu você quer de mim?

Hellen estendeu o celular para Daniel e deslizou o dedo na tela mostrando uma sequencia de fotos das tatuagens de David.

- Eu tirei essas fotos poucos minutos antes de colocar o cadáver de David na câmara refrigeradora do IML. Quero que traduza essas palavras pra mim o mais rápido possível.

- Pra quando você quer? Perguntou torcendo o rosto diante a dura missão.

- Para ainda hoje se possível.

Daniel concluiu ser impossível pela má qualidade das fotografias, a quantidade de textos em grego e ainda a dificuldade de transliterar uma vez que a tradução ao pé da letra deixa muito a desejar quanto à coerência. Naquele instante o silencio pairou no ar.

- Doutora aqui tem algum banheiro? Perguntou Sarah quebrando o gelo.

- Siga pelo corredor e pegue a primeira a direita. Ensinou Hellen sem olhar para onde apontava.

Daniel ficou olhando para Sarah se levantar até que ela deu as costas e seguiu pelo corredor indicado por Hellen. Parecia loucura acreditar nas charadas deixadas por um cadáver. De súbito Daniel pareceu ter tido uma visão. E era realmente isso que ele estava tendo.

- Hellen, a charada diz que devemos seguir os passos de Sarah?

- Sim.

Os olhos de Daniel estavam vidrados na tatuagem nas costas da Sarah. A blusa de costas nua permitia enxergar uma trilha percorrendo a espinha dorsal feitas de pequenas pegadas tatuadas até a nuca findando em um incomum desenho.

- Pode parecer loucura, mas acho que já sei o que o tal David queria dizer com seguir as pegadas dessa garota!

Hellen seguiu a direção do olhar de Daniel e imediatamente se levantou absorta.

- Sarah! Gritou.

Caminhou em passos determinados para junto de Sarah acompanhada por Daniel que ainda desacreditava do seu feito. Sarah se virou assustada.

- Já sabemos o que David queria dizer com seguir seus passos. A tatuagem nas suas costas.

Os três caminharam até à entrada dos banheiros. Um estreito corredor fora da vista dos funcionários e clientes. Ao fundo a porta do banheiro feminino e outro pequeno corredor a esquerda levavam ao masculino. Hellen verificou o desenho mais de perto. Era impressionante a inteligência de David. As pegadas também eram uma tatuagem e estava ali o tempo todo tão próxima dela. O desenho na nuca era três círculos espirais formando uma espécie de pirâmide circulada por outras pequenas frases.

- Filho de André em sua mão está a revelação. - Hellen leu a frase com uma imensa dificuldade. – Outra charada!

- Meu Deus, eu havia esquecido esse detalhe. Esse foi meu presente de aniversário quando ainda namorava David. Ele pediu permissão para fazer uma tatuagem em mim e eu permiti. Depois eu não entendi nada desse desenho. E ele nem se deu ao luxo de explicar. E agora está aí! Sarah estava sem palavras mais uma vez.

Hellen fitou o desenho atentamente procurando lógica na charada. As pegadas levavam a um desenho que ela imaginava esconder o verdadeiro sentido da mensagem.

- Que símbolo é esse?

- Eu não sei! Respondeu Daniel prontamente.

- Nada que um Google não resolva!

Hellen sacou o celular do bolso e abrindo o navegador acessou a referida página de buscas. A primeira tentativa foi pesquisar por:

Significado dos símbolos

Ao iniciar a busca vários sites foram listados. No resultado de imagens uma moldura com vários símbolos apareceu contendo um desenho semelhante. Ela clicou no resultado e assim que página abriu mostrou uma lista de símbolos com descrições sobre seu significado. O desenho procurado apareceu quase no fim da lista.

- Triskle Celta! Disse Hellen com tom otimista.

Antes que pudesse ler o significado do símbolo, uma voz ecoou vindo do salão.

- Polícia Civil!

A voz feminina dando esta ordem ressoou inconfundível nos ouvidos de Hellen. Ao entrar nos seus ouvidos a ordem pareceu lhe descarregar um choque elétrico que a imobilizou por completo. Era a delegada Letícia que conseguiu de algum modo rastrear seu trajeto.

- Calma, estamos atrás de uma pessoa. Precisamos revistar o local. Fomos informados que a pessoa que procuramos entrou aqui. Ela oferece grande risco a todos.

O trio no corredor se entreolhou atônito com a frase da delegada no salão. Hellen teve poucos segundos para pensar. Certamente a delegada iria revistar todo o local a procura dela. Com rapidez Hellen retirou a chave do carro do bolso e um cartão de créditos da carteira e entregou a Daniel.

- Rápido, saia daqui Daniel. Pague a conta e tire meu carro do estacionamento. Espere-me em uma rua que tem aqui atrás.

- O que você vai fazer?

- Não há tempo para explicar. Saia logo daqui e faça o que mandei.

Hellen empurrou Daniel, agarrou o braço de Sarah mais assustada ainda e disse:

- Confia em mim Sarah!

 

 

 

 

 

 

A delegada Letícia na companhia de Lucas haviam assustado os clientes com sua inesperada abordagem policial naquela badalada cafeteria do centro de São Paulo. Seus olhos vasculhavam entre os rostos presentes com a finalidade de se deparar com o rosto da médica fugitiva.

- Por favor, ninguém saia do lugar.

Além dos clientes, um aglomerado de funcionários curiosos se formou atrás do balcão de atendimento. Um homem moreno, careca e muito bem vestido abriu passagem entre os demais e se aproximou da delegada. Ele era o gerente do estabelecimento.

- Que está acontecendo aqui pelo amor de Deus? Perguntou preocupado.

- Queira nos desculpar pelo modo que entramos. Estamos procurando uma pessoa que entrou nesse lugar.

- Mas que tipo de pessoa traria a polícia até nosso estabelecimento? Aqui é um lugar de gente descente... Tentava explicar o gerente com a voz esganiçada.

- Eu acredito que sim. Só quero que contribua com o trabalho da polícia e nos permita fazer uma rápida busca no seu estabelecimento!

- Senhora isso é constrangedor para nós! Protestou o gerente.

- Mais constrangedor será se nos impedir de fazer o que é certo e acabar expondo a vida de seus clientes ao perigo não acha?

O gerente não teve como argumentar. Apenas saiu da frente da delegada e gesticulou dando aval para que adentrasse mais ainda o recinto. Lucas permaneceu no saguão enquanto a Letícia seguiu em direção dos corredores que levavam ao banheiro. Uma fila de clientes se formou diante do caixa para efetuar o pagamento. O clima tinha ficado pesado e ninguém se sentiu a vontade de continuar.

- Com licença. Disse um homem de boné preto e camisa xadrez vermelha pedindo passagem para Lucas após fazer o pagamento.

- Pois não senhor.

- Isso é um absurdo! Resmungou o homem passando pelo policial.

Letícia entrou o corredor farejando como um cão de caça. O corredor estava vazio. Não pensou duas vezes em entrar no banheiro feminino. Empurrou a porta e sacou a arma.

- Tem alguém aí? Doutora eu não quero dificultar as coisas. Se você estiver aí apareça.

O ranger de uma das portas das cabines deixou Letícia alerta que brandiu a arma em direção ao movimento. Quando se deu por conta, estava apontando a arma para uma senhora de cabelos brancos e se apoiando em uma bengala.

- Eu não consigo levantar as mãos! Disse a senhora trêmula com um olhar de inocência.

Letícia dispensou a senhora e continuou a busca abrindo cabine por cabine até se convencer que Hellen não estava no banheiro. Retornando desapontada para o saguão guardou a arma e ordenou a Lucas que fizesse o mesmo nos banheiros masculinos. Lucas imediatamente atendeu as ordens da delegada e partiu para os banheiros, retornado minuto depois tão desapontado quanto.

- Não tem ninguém no banheiro masculino.

- Querem olhar em mais algum lugar? Sugeriu o gerente com tom aborrecido por ver os clientes indo embora. As únicas áreas que restam são a cozinha e a área de serviço. Ninguém entra sem autorização. Mas se preferirem.

- Apenas por medida de precaução. Disse Hellen seguindo para trás do balcão até a cozinha.

Minutos depois retornou mais uma vez insatisfeita e aborrecida. Hellen tinha sido enganada ela mais uma vez. A fúria da delegada estava gradativamente aumentando.

- Vocês tem um circuito interno de câmeras não tem? Perguntou olhando para as paredes.

- É elementar minha cara. Respondeu o gerente.

- Quero dar uma olhada imediatamente.

 

 

 

 

Somente a alguns metros da cafeteria, em uma rua por trás do quarteirão do estabelecimento, Hellen entrou como um vulto no seu Fox Prime na companhia de Sarah. Ao volante estava Daniel com a expressão assustada.

- Como você conseguiu sair de lá?

Hellen mesmo em meio ao nervosismo não conseguiu esconder um sorriso travesso pela forma que conseguiu sair da cafeteria longe da vista de todos. Relembrou a cena desacreditando que agiu de modo tão sorrateiro.

Assim que empurrou Daniel para o salão, Hellen puxou Sarah para o banheiro masculino presumindo por motivos claros que a delegada procuraria por ela primeiramente no banheiro feminino. Apreensiva, atrás da porta ouviu os passos do salto alto de Letícia atravessando o corredor até o barulho abafar totalmente. Letícia entrou no banheiro masculino, deduziu. Aproveitando esse meio tempo, olhou para fora sem soltar o braço de Sarah. Vendo uma senhorinha de bengala apressada e chorosa vindo à direção contrária do banheiro feminino, Hellen saiu do banheiro masculino em passos rápidos e entrou por uma porta com a placa ALMOXARIFADO mais à direita. Dentro dessa sala um amontoado de vassouras, materiais de limpeza, cadeiras e mesas desmontadas. Ao fundo da sala outra porta, que descobriu levar até a cozinha. Olhou de esguelha pela brecha da porta entreaberta e constatou que a cozinha estava deserta. Certamente todos foram atraídos para o saguão da cafeteria por conta da presença da policia. Ela não soltou a mão de Sarah atravessando a cozinha cautelosa até chegar a uma porta que radiava uma claridade exterior. A saída! Atravessando a porta ela teve acesso a um beco cheio de sacos de lixo, precisou somente correr mais alguns metros até enxergar a rua onde seu carro já aguardava ligado debaixo de uma arvore. No banco do motorista o dono de um rosto impressionado que agora ouvia da própria boca de Hellen esse feito digno dos cinemas.

- Eu estou sem palavras! Exclamou Daniel pausadamente.

Hellen riu e conseguiu ver Sarah mais a vontade. A adrenalina também havia corrido em boas doses na veia da moça.

- Ufa! Pensei que meu coração fosse sair pela boca. Exclamou Sarah aliviada.

- Mais estranho para mim foi sair da cafeteria sob os olhares desconfiados de uns jovens me vendo pegar uma bolsa carmens stheffens e sair desfilando pela saída. Disse Daniel arrancando gargalhadas das duas passageiras.

Ele se sentiu um herói pelo feito. Se não tivesse se lembrando da bolsa na mesa em que estavam teriam deixado uma bela pista para a delegada. Hellen pediu Sarah para se virar de costas como fosse possível no banco de trás para que ela pudesse averiguar a tatuagem novamente.

- E agora o que faremos?

A pergunta de Daniel tinha um tom animador. O clima de perigo e desconfiança já havia envolvido ele. Era uma boa forma de quebrar a rotina universitária.

- Vamos agora desvendar esse próximo enigma.

 


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